Sento-me e parece que toda a gente olha para mim com um misto de curiosidade e desconfiança. Sim, sou uma cara nova por estes lados, por estas horas. Ou sou simplesmente diferente do que eles estão habituados a ver... por estes lados, por estas horas.
As águas do Douro agitam-se impacientemente. O ar que bate à superfície do rio forma ondinhas e redemoinhos. Se pudesse congelar este momento, as águas pareceriam os lençóis de uma cama. Lençóis verde-aço, com barquinhos cheios de turistas.
Chegam-me aos ouvidos fragmentos de conversas. Já me sinto familiarizada com o ambiente e parece que o ambiente também já se habituou à minha presença.
O sol embate na água e traz-me o brilho, o brilho do ouro, o brilho de uns olhos sorridentes, o brilho de tempos que já se foram e nunca mais hão-de voltar...
Parece-me estranho esta calma tão profusa, apesar da agitação do mundo.
"Má que cosa bella!", oiço ao meu lado. O ruído de uma máquina fotográfica. O som das águas que se começam a agitar. O som de vozes bem portuguesas, bem portenhas, bem qualquer coisa que não sei explicar, mas que cativa.
Oferecem-me um cigarro, mas recuso. No entanto, a conversa aceito de bom grado, como quem aceita um chá bem quente numa noite de Inverno. Perguntam-me se sou daqui. Sabem a resposta de antemão, mas perguntam na mesma. Querem saber de onde venho, porque tenho a pele morena, porque brilham os meus olhos, porque estou aqui. Querem saber o que faço. Oferecem-me um gole de algo que está dentro de uma garrafa opaca. também não aceito. Querem saber para onde vou. Se estou sozinha.
Não estou habituada a que me oiçam assim. Com os ouvidos e com os olhos. No entanto, o Douro tira-me a timidez e eu converso como se falasse com velhos amigos. Aqui, junto ao lamento do rio, todos são amigos.
Aqui, o aroma da água e a melodia de algo que está longe [talvez no céu?] fazem-se amigos do tempo que parece não querer passar.
Suspiro e deixo-me ficar. Aqui junto às águas do rio...
"Happiness is a sad song..."
10 comments:
"Oferecem-me um cigarro, mas recuso. No entanto, a conversa aceito de bom grado, como quem aceita um chá bem quente numa noite de Inverno. "
Má que cosa bella!!
Luninha, luninha... podias-me ter chamado para ir contigo! Mas pelo que vejo arranjaste logo companhia...
Bonito, muito bonito Luninha... andas mesmo a ficar com jeito pá coisa... será que me podias dar um pouquinho? Hum... digamos... 20% já me chegava. Se não fosse pedir muito...
Meh... tenho inveja de ti -.-
*This post was censored by the author on the grounds of too much explicit truth*
Todos os dias passo a bela ponte sobre o Douro e todos os dias, fico maravilhada com a paisagem:)
Que post inspirado!
Beijocas
A bucolidade do lugar e este rio...o teu bonito coração...uma tela cheia de encanto...
Boa semana
Mágico beijo
Não sei [tu] indecisa, mas sei que tens uma escrita belisima e fluente.
A linkar este espaço com a tua permissão.
Beijo grato.
Retribuo e agrade�o a visita ao meu blog.
O que encontrei por aqui vai fazer-me certamente voltar.
Uma escrita correcta que espelha conte�dos consistentes...
Gostei especialmente deste post... Quando parava por Lisboa n�o apreciava o Porto. Quando regressei ao norte, descobri aos poucos a cidade invicta e aprendi a gostar.
Parab�ns pelo teu blog.
At� � pr�xima.
"bem qualquer coisa que não sei explicar, mas que cativa"
é precisamente isso que me cativa no Porto... não saber explicar e adorar... Acho que aquilo que nos faz sentir verdadeiramente bem não tem qq razão para isso, faz-nos bem e pronto... Não necessitamos de qq motivo, não é?
Parabéns pela sua escrita, em cada palavra dá-nos um bocadinho da sua alma. Gosto disso.
"bem qualquer coisa que não sei explicar, mas que cativa"
é precisamente isso que me cativa no Porto... não saber explicar e adorar... Acho que aquilo que nos faz sentir verdadeiramente bem não tem qq razão para isso, faz-nos bem e pronto... Não necessitamos de qq motivo, não é?
Parabéns pela sua escrita, em cada palavra dá-nos um bocadinho da sua alma. Gosto disso.
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