O parque nas traseiras da minha casa, aquele que consigo ver das janelas da cozinha e da sala, já foi bonito. Já teve baloiços, um escorrega, um sobe-e-desce e um daqueles apoios-em-que-os-putos-parecem-macaquinhos, onde me punha de cabeça para baixo para dar sentido ao mundo. Já esteve inundado de água no inverno, com tábuas de madeira a servir de pontes, tábuas essas que nós evitávamos para acabar todos molhados dos joelhos para baixo o que dava que fazer às nossas mães. Já teve só baloiços e só um escorrega, já teve montinhos de terra que nós juntávamos para servir de casa a formigas laboriosas. Já fui muito feliz naquele parque. A andar de baloiço e a tentar dar a volta por cima, só para ver o que acontecia [um dia consegui e aterrei de rabo no chão], a andar no sobe-e-desce e a ficar sempre por cima porque era magricela e escanzelada, com os joelhos ossudos e as mãos pequeninas, a descer o escorrega sentada e com montes de amigos atrás a fazer um comboínho, a dar cambalhotas nos apoios e a ficar de cabeça para baixo até acabar maldisposta. O primeiro ou segundo amor, as conversas infantis, os faz-de-conta, jogar ao guelas e essas coisas que os putos já não fazem. O parque já foi muito bonito, nas noites de verão a jogar às escondidas, mãos dadas no escuro, o medo da lua cheia, as esquinas onde nos refugiávamos, e o "não sei quem já não salva ninguém" e o "pronto ou não, aqui vou eu!". O celebrar o Halloween pela primeira vez, a contar estórias de terror em rodinha, o jogo da "cola peganhenta" ou o desenterrar de objectos estranhos aos quais inventávamos passado, presente e futuro. "E esta pedra veio de Marte, fez parte de um grande meteorito que provocou uma cratera enorme e por isso é que neste parque não cresce relva"...
Hoje há putos grandes, que fumam e dizem asneiras, que têm namoradas às quais dão beijos avassaladores do género das telenovelas, que grafittam as paredes dos prédios e que não vêem desenhos animados nem fazem jogos como os de antigamente. Hoje o parque continua de terra batida e já não tem carrocel nenhum nem "shalalalala's a correr a saltar, o cavalinho não saía do lugar, shalala" nem faz-de-contas, nem brincadeiras de criança. Hoje os putos nascem ensinados, não passam pela fase da cegonha nem do pai natal, celebram o Halloween e não o "pom por deus" e não sabem porque é feriado nesse dia, conversam sobre assuntos que eu nem quero saber. O meu irmão é um desses putos.
Tenho saudades daquele parque como costumava ser, das noites em que ficávamos até tarde, quando no fundo era cedo, dos amigos que ali fiz, da primeira pseudo-paixão, de andar nos baloiços até doerem as mãos por causa das correntes e do frio, de ficar lá a ver o céu e a pensar no que está para lá disso, de suspirar de amores por um menino que mudou-se três meses depois, de piqueniques na relva por debaixo das arcadas... para onde foi tudo isso?
"Happiness is a sad song..."
Hoje há putos grandes, que fumam e dizem asneiras, que têm namoradas às quais dão beijos avassaladores do género das telenovelas, que grafittam as paredes dos prédios e que não vêem desenhos animados nem fazem jogos como os de antigamente. Hoje o parque continua de terra batida e já não tem carrocel nenhum nem "shalalalala's a correr a saltar, o cavalinho não saía do lugar, shalala" nem faz-de-contas, nem brincadeiras de criança. Hoje os putos nascem ensinados, não passam pela fase da cegonha nem do pai natal, celebram o Halloween e não o "pom por deus" e não sabem porque é feriado nesse dia, conversam sobre assuntos que eu nem quero saber. O meu irmão é um desses putos.
Tenho saudades daquele parque como costumava ser, das noites em que ficávamos até tarde, quando no fundo era cedo, dos amigos que ali fiz, da primeira pseudo-paixão, de andar nos baloiços até doerem as mãos por causa das correntes e do frio, de ficar lá a ver o céu e a pensar no que está para lá disso, de suspirar de amores por um menino que mudou-se três meses depois, de piqueniques na relva por debaixo das arcadas... para onde foi tudo isso?
"Happiness is a sad song..."
2 comments:
Foi para a tua memória, Luninha. E é por isso que lemos coisas assim =) bonitas como tu. Um dias vais ser uma escritora famosa e esses putos vão ler o teu blogue e suspirar pelo que perderam ao serem demasiado "evoluídos"...
beijo nessa bochecha*
O comentário anterior tirou-se as teclas do teclado! Que te recordes disso para sempre :)
Beijinhos
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